O BRASILEIRO COMO LOBO DE SEU SEMELHANTE: OS ENGARRAFAMENTOS COMO FONTE DESIGUAL DE DISTRIBUIÇÃO DE INFELICIDADE
O trânsito das grandes cidades brasileiras tornou-se um caos, e os engarrafamentos imensos são fonte de descontentamento geral. Entretanto, sem dúvidas, os que mais sofrem com essa estressante situação são os usuários dos serviços públicos de transporte coletivo, mormente dos ônibus.
O Brasil, como Estado capitalista, protege exacerbadamente o instituto da propriedade e, frequentemente inclusive, fá-lo em detrimento dos princípios da liberdade e da igualdade.
Os incentivos que são dados à compra de automóveis são uma boa exemplificação da realidade acima diagnosticada. Nesse diapasão, as montadoras lucram, o Estado, através da tributação, leva a parte dele, e os compradores desse bem também obtém uma fonte de um pouco mais de conforto no enfrentamento do trânsito.
Indubitavelmente, a perda de tempo, isto é, O CONFISCO DE BOAS HORAS DE VIDA, iguala, apenas minimamente, usuários dos ônibus aos motoristas e passageiros de veículos privados. Isso porque, incontestavelmente, a sensação de passagem de tempo não se dá de modo rigorosamente igual entre os humanos pertencentes às categorias aludidas. Para aqueles, enfrentando lotações e apertos e bolinações, calor e desconforto e o simples ficar em pé, o tempo parece arrastar-se bem mais lentamente que para estes, que sofrem sentados e com o potencial de usufruir de alguns itens de conforto, como ar-condicionado.
Ilustrativamente, se uma hora perdida em um engarrafamento, para o motorista em veículo particular, representa a perda subjetiva de duas horas de vida; para o usuário dos ônibus, a sensação é de que se perderam, inutilmente, quatro horas de existência.
Dessa forma, resta mais que claro que o trânsito nas grandes cidades brasileiras é fonte tremenda de mais infelicidade para os indivíduos que, por diversas razões, são usuários dos serviços públicos de transporte coletivo, mormente dos ônibus.
O Estado deve auxiliar as pessoas na busca da felicidade. Para tanto, é chegada a hora de os governantes brasileiros adotarem dramáticas e severas medidas no sentido de priorizar o sistema de transporte público de passageiros.
Nessa senda, exemplificadamente, cabe ao Estado, imediatamente, desincentivar a compra de automóveis, majorando as alíquotas dos tributos que sobre eles incidem, e também cobrar pedágios urbanos, mormente em zonas em que a circulação de ônibus é maior.
O Estado brasileiro precisa adotar medidas, enfim, que beneficiem toda a sociedade, não apenas os que podem, ao comprar um automóvel, na luta por um pouco menos de infelicidade, elevar ainda mais o nível de sufoco dos que estão mais à margem dessa nossa sociedade em que, ainda, o homem é incentivado a ser o lobo de seu semelhante.