E OS CRIMINOSOS SEGUEM IMPUNES...
Um dos princípios que rege o exercício do poder pelo Estado brasileiro é o da impessoalidade. Infelizmente, em diversos momentos, as autoridades que temos olvidam essa fundamental diretriz e tratam desarmonicamente indivíduos que se encontram em análogos contextos.
Um Estado soberano não pode ser justo se trata igualmente pessoas idiossincraticamente desiguais, tampouco o será caso trate distintamente seres humanos atrelados a idênticas conjunturas.
As nossas autoridades – algumas escolhidas por nós brasileiros; outras selecionadas em concursos; muitas apontadas pelos que elegemos – amiúde, para proteger ou alcançar interesses seus, nem sempre confessáveis nem condizentes com suas missões institucionais, atacam, impunemente, o aludido princípio da impessoalidade.
Quando se apontam as prioridades orçamentárias, não optar por privilegiar investimentos na melhoria e na expansão dos serviços públicos, preferindo disponibilizar recursos para, por exemplo, empreendimentos privados ou para publicidade oficial, é assassinar a impessoalidade.
Se a esmagadora maioria dos brasileiros necessita de saúde, educação, transporte, segurança e se os serviços ofertados pelo Estado brasileiro nesses setores não é bom, nada justifica que recursos que poderiam ser utilizados nessas áreas principais sejam injetados em setores absolutamente secundários.
Nada justifica a não ser o fato de que nossas autoridades não usam os serviços públicos que nos oferecem e de que, para elas, em geral, é indiferente se os usuários/ contribuintes estão satisfeitos ou não.
Essa indiferença majora-se, mormente tendo em conta que as autoridades nossas de cada dia acreditam, baseando-se na experiência secular, que a população insatisfeita, sob a influência de massivas propagandas e de óbolos, celeremente, esquecem e sorriem.
Ignorando as mortes causadas pela insegurança e pelas deficiências nos mais diversos setores da saúde e fomentando – mediante uma educação pública básica e média de péssima qualidade – a formação de cidadãos ignorantes e acríticos, os dirigentes de nossa pátria precatam-se investindo em publicidade e beneficiando uns ricos amigos empresários com empréstimos polpudos a fundo perdido, com a condição de que, oportunamente, estes financiem campanhas eleitorais.
Esse quadro sistémico tortura, sodomiza, assassina, esquarteja, sepulta e ainda viola o túmulo do princípio constitucional da impessoalidade. E os criminosos seguem impunes...