DEVORADOS, OS HUMANOS CONSUMIDOS

DEVORADOS, OS HUMANOS CONSUMIDOS

DEVORADOS, OS HUMANOS CONSUMIDOS

 

O trabalho dignifica o homem. É o que propalam há séculos.

 

Sem dúvidas, trabalhar e ser remunerado por isso significa estar inserido nesta sociedade que predomina no planeta Terra: capitalista e consumista. E não ter renda provoca a colocação do sujeito, sem dignidade, à margem do sistema posto.

 

Contudo, apesar de, frequentemente, os que têm um trabalho, ainda que gerador de mínima renda, serem os primeiros a promover a marginalização dos desprovidos de quaisquer rendimentos; em verdade, ambos os grupos estão na periferia do sistema e, desunidos, tornam-se incapazes de vislumbrar a realidade: todos são oprimidos!

 

Para que a exploração à exaustão dos que trabalham, ainda que a troco de muito pouco, dê-se de forma plena, é necessário que existam soldados de reserva, seres humanos desocupados e loucos para obterem qualquer colocação, mesmo que degradante.

 

Desse modo, os trabalhadores ativos, por medo, acabam submetendo-se a quase todas as condições de trabalho, para não correrem riscos de serem colocados à malfadada extrema margem.

 

Esse panorama conduz, deveras, à conclusão de que o trabalho dignifica o homem?

 

Não é o que parece. Todos os humanos que estão à periferia do sistema capitalista, e são a grande maioria, sejam como marginalizados, sejam como explorados, encontram-se, salvo exceções, em situação de degradação, longe, portanto, de vivenciar a propalada dignidade da pessoa humana.

 

A competição fomentada – pelos mandatários da estrutura de poder estabelecida no mundo e também no Brasil – entre marginalizados e explorados, deixa todos esses ocupantes da periferia, desunidos, cegos e incapazes de provocar alguma mudança na espinha dorsal da estrutura de opressão.

 

De tanto trabalhar ou de tanto serem humilhados, o que mais desejam os humanos consumidos é fugir à realidade. São vítimas da lavagem cerebral promovida pelos meios de comunicação. Acreditam e fazem, cordeiramente, o que os mestres comandam.

 

Embriagam-se, escutam música de qualidade duvidosa. Calorosamente, discutem futebol. Não têm e/ou não querem ter tempo para discutir política, mormente fora dos maniqueístas períodos eleitorais.

 

Não sabem que todo o poder deles emana. Não creem na força que tem o elefante. Não acreditam que qualquer melhora possível depende de uma atitude advinda deles. Preferem esperar, na seca, um providencial temporal de salvações.

 

Dignificar o homem, portanto, bem que poderia ser um dos característicos do trabalho; contudo, até hoje, essa justificativa tem servido, verdadeiramente, para manter, presos pela gratidão de serem consumíveis, os trabalhadores e os sem-emprego eternamente prontos para serem devorados física-psíquico-espiritualmente.