A EROSÃO ÉTICA E A DERROTA DE TODOS
O ser humano deve ser responsável e, por isso, precisa submeter-se às consequências de suas ações. Nessa toada, em corolário, sem dúvidas, somos eternamente responsáveis pelos que cativamos e pelo que praticamos.
No cenário hodierno, ninguém é obrigado a manter um relacionamento com quem quer que seja. Obviamente que há uma forte e deplorável tendência de mudar de relacionamentos, mormente amorosos, com elevada frequência; e as justificativas para a alteração têm sido não apenas cada vez menos importantes, como ainda cada vez mais irrisórias.
Na sociedade da informação, da interatividade e da pressa, não se tem dado ao trabalho de procurar corrigir problemas, mesmo os pequenos, que surgem inevitavelmente em uma relação a dois, a qual, noutros tempos, seria verdadeiramente uma história, um romance; tem-se preferido terminar logo tudo e partir para outra aventura, outro caso, um novo conto.
Nunca houve tantos divórcios, tantos rompimentos, tantas decepções.
Há, porém, os que não finalizam a relação que, à sua luz, não dá certo e começam, paralelamente, outra. O adultério, a traição, tem sido banalizado e, hoje, tanto homens quanto mulheres praticam-no e, inclusive, com pouco ou nenhum remorso.
Numa relação amorosa, cada um dos pares cativou o outro, encantou-o. Essa situação deveria ser encarada com responsabilidade, com um cuidar, um respeitar. Infelizmente, não é o que se tem sucedido amiúde: o ser que cativou tem sido o mesmo que apedreja: traindo, desistindo e de múltiplas formas diferentes.
O mais grave em tudo isso é que se alguém, diante de uma pessoa a quem ama ou amou e perante uma pessoa de quem é amado ou foi amado, não tem pudor em machucar, imagine o que capaz é de fazer com um desconhecido.
Não é a única razão, mas, indubitavelmente, essa irresponsabilidade para com o outro é uma das grandes causas da erosão ética do mundo.
Se o mundo está perdido, isso se deve muito ao extremo egoísmo do ser humano e à sua, cada vez maior, incapacidade de pôr-se no lugar do outro. Em um mundo em que é cada um por si, em que não se consegue e nem se quer mais carregar a sua cruz, ainda que com os auxílios de outros, todos perdem.